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20 de ago. de 2011

Depoimento de um advogado no além túmulo

Justiça arbitrária
“Trouxeram-me para depor.
Estou porém, acostumado a defender.
A Justiça, para mim, tem somente uma direção, especialmente no campo a que dei a minha vida.
A força do argumento, baseada na Lei, é a cláusula da verdade. O advogado criminalista é, sobretudo, o intérprete da consciência do seu cliente, que pode aprofundar o exame nas causas despercebidas do crime e defender o delinquente dentro de uma visão que se coaduna com o interesse dele, mas nem sempre o interesse social.
Exerci a advocacia com ardente interesse. Primeiro, ativado pelas concessões que a fortuna pode dar aos que defendem os criminosos que podem remunerar bem. O lado ético, o chamado lado da vítima, deixou de me interessar desde quando, não podendo ressuscitar o morto, empenhava-me em preservar o vivo. Segundo: considerando o sistema penitenciário vigente, arbitrário e criminoso, feito por uma sociedade corrompida, sem me eximir à corrupção que contamina a todos, procurei brilhar no Fórum, defendendo as vidas que me compravam os equipamentos culturais em nome da Lei.
Houve momentos rutilantes no meu desempenho, com réplicas e tréplicas que comoveram as multidões apinhadas no salão do júri, facultando os que confiavam a mim os seus segredos, o retorno à liberdade.
E o fiz, muitas vezes arrebatado pelo entusiasmo ou pela arrogância.
A morte tomou-me o corpo e eu não fugi da realidade. Ainda me sinto arrebatado pelo entusiasmo, porém agora picado de ódio.
Aqui, acusam-me de haver defendido o criminoso e perseguem-me porque não permiti que a Justiça alcançasse aqueles que se entregaram à sanha dos seus sentimentos mais vis.
Hoje me empenho numa luta titânica, desgastante, devastadora, com párias que a morte não aniquilou, do mesmo modo que a mim não destruiu.
Acusam-me e querem fazer contra mim justiça com suas mãos, em nome da Justiça que é cega, deixando oscilar para aquele que lhe ponha mais ouro no prato da balança que segura. Foi o que eu fiz. Desde os dias remotos da Grécia, passando pelas civilizações de Roma, das Gálias e dos Íberos ou ainda mais recuadamente na arbitrária justiça de Salomão, nem sempre a sabedoria ganhava a causa da verdade, e sim a astúcia, a habilidade, a maneira de armar  o sofisma e de engendrar a defesa utilizando-se da cupidez dos outros.
No júri popular, em especial, desarmados da compreensão das sutilezas da Lei, os jurados passam, muitas vezes, de instrumento de emoção que o criminalista sabe utilizar com habilidade para atingir seus fins.
Mas agora dizem que eu sou tão criminoso quanto os criminosos que defendi; por quê? Porque as suas vítimas pelo menos esperavam a justiça e voltam-se contra mim,travando-se novas pelejas em que sou levado a julgamentos mais arbitrários do que aqueles de que eu participei, arrastando-me a verdadeiros pelourinhos de execração pública, nas quais, exposto como um Quasímodo, sou vítima de escárnio, de chalaça e da zombaria dos biltres a quem detesto com todas as forças da minha vida.
Perdi o contato com o tempo e não sei qual a razão por que me trazem aqui para depor, a fim de que a minha desdita possa ser útil. Duvido muito que a voz da sepultura consiga modificar a paixão pelo dinheiro de quantos estão na ribalta dos interesses mesquinhos, disputando os ouropéis por cuja conquista todos nos engalfinhamos. Eu sou o desgraçado, que reconhece a desdita, mas cujo orgulho não me permite recuar. Sofro, e faço sofrer, porque as sombras vêm, acusando-me de dedo em riste, e mostrando-me a desgraça que se lhes abateu sobre o lar.
Não posso recuar no já feito. Não me arrependo, pois que cumpri com o meu dever perante a vida. Fui pago para defender e, se fosse necessário e possível, eu repetiria, novamente, todas as façanhas porque, desgraçadamente, só depois da morte que se pode avaliar a vida.
Aqui estão comigo, no mesmo pelourinho, os que se deixaram vencer pela venalidade: juízes inescrupulosos, promotores corrompidos, advogados malsinados que, juntos, desrespeitaram a lei. Qual lei, porém? As leis humanas,  são todas trabalhadas pelos interesses dos mais fortes sobre os mais fracos, dos dominadores sobre os vencidos, dos poderosos sobre os desgraçados. E como aprendi que a Lei de Deus está refletida na lei da justiça dos homens, eu me justifico, e se a consciência não se submete à minha justificativa e os meus perseguidores inclementes me pretendem crucificar, então mil vezes, sem que haja distinção da minha consciência, que o façam. Engalfinhar-nos-emos nesta luta pelo dobrar dos tempos, até que uma consecução desarvorada e aniquiladora se abata sobre nos, tornando-nos sonâmbulos do horror, mumificados pelo ódio, até o término das eras”  (Pereira Franco, Divaldo: Depois da Vida” Ed. Livraria Espírita Alvorada Editora; Salvador-BH, 1997).
Retirei do livro: Criminalidade, Doutrina Penal e Filosofia Espírita de Cândido Furtado Maia Neto e Carlos Lenchoff.
Iride Eid Rossini 

Francisco Cândido Xavier





Fermento velho
"Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa." – Paulo.
(I Coríntios, 5:7.)
 Existem velhas fermentações de natureza mental, que representam tóxicos perigosos ao equilíbrio da alma.
Muito comum observarmos companheiros ansiosos por íntima identificação com o pretérito, na teia de passadas reencarnações.
Acontece, porém, que a maioria dos encarnados na Terra não possuem uma vida pregressa respeitável e digna, em que possam recolher sementes de exemplificação cristã.
Quase todos nos embebedávamos com o licor mentiroso da vaidade, em administrando os patrimônios do mundo, quando não nos embriagávamos com o vinho destruidor do crime, se chamados a obedecer nas obras do Senhor.
Quem possua forças e luzes para conhecer experiências fracassadas, compreendendo a própria inferioridade, talvez aproveite algo de útil, relendo páginas vivas que se foram. Os aprendizes desse jaez, contudo, são ainda raros, nos trabalhos de recapitulação na carne, junto da qual a Compaixão Divina concede ao servo falido a bênção do esquecimento para a valorização das novas iniciativas.
Não guardes, portanto, o fermento velho no coração.
Cada dia nos conclama à vida mais nobre e mais alta.
Reformemo-nos, à claridade do Infinito Bem, a fim de que sejamos nova massa espiritual nas mãos de Nosso Senhor Jesus.
Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Vinha de Luz. Ditado pelo Espírito Emmanuel. Capítulo Sessenta e Quatro. Federação Espírita Brasileira.

19 de ago. de 2011

André Luiz

Aproveite o ensejo
Não é o companheiro dócil que exige a sua compreensão fraternal mais
imediata, E aquele que ainda luta por domar a ferocidade da ira,
dentro do próprio peito.
Não é o irmão cheio de entendimento evangélico que reclama suas
atenções inadiáveis. É aquele que ainda não conseguiu eliminar a
víbora da malícia do campo do coração.
Não é o amigo que marcha em paz, na senda do bem, quem solicita seu
cuidado insistente. É aquele que se perdeu no cipoal da discórdia e da
incompreensão, sem forças para tornar ao caminho reto.
Não é a criatura que respire no trabalho normal que requisita socorro
urgente. É aquela que não teve suficiente recurso para vencer as
circunstâncias constrangedoras da experiência humana e se precipitou
na zona escura do desequilíbrio.
É muito provável que, por enquanto, seja plenamente dispensável a sua
cooperação no paraíso. É indiscutível , porém, a realidade de que, no
momento, o seu lugar de servir e aprender, ajudar e amar, é na Terra
mesmo.
Xavier, Francisco Cândido. Da obra: Agenda Cristã.
Ditado pelo Espírito André Luiz.


Defenda-se
Não converta seus ouvidos num paiol de boatos.
A intriga é uma víbora que se aninhará em sua alma.
Não transforme seus olhos em óculos da maledicência.
As imagens que você corromper viverão corruptas na tela de sua
mente.
Não faça de suas mãos lanças para lutar sem proveito.
Use-as na sementeira do bem.
Não menospreze suas faculdades criadoras, centralizando-as nos
prazeres fáceis.
Você responderá pelo que fizer delas.
Não condene sua imaginação às excitações permanentes.
Suas criações inferiores atormentarão seu mundo íntimo.
Não conduza seus sentimentos à volúpia de sofrer.
Ensine-os a gozar o prazer de servir.
Não procure o caminho do paraíso, indicando aos outros a estrada
para o inferno.
A senda para o Céu será construída dentro de você mesmo.
Francisco Cândido Xavier
[Agenda Cristã]
Espírito: André Luiz
 

Liberte sua alma
Não se prenda à beleza das formas efémeras. A flor passa breve.
Não amontoe preciosidades que pesem na balança do mundo. As correntes
de ouro prendem tanto quanto as algemas de bronze.
Não se escravize às opiniões da leviandade ou da ignorância.
Incitatus, o cavalo de Calígula, podia comer num balde enfeitado de
pérolas, mas não deixava, por isso, de ser um cavalo.
Não alimente a avidez da posse. A casa dos numismatas vive repleta de
moedas que serviram a milhões e cujos donos desapareceram.
Não perca sua independência construtiva a troco de considerações
humanas. A armadilha que pune o animal criminoso é igual à que
surpreende o canário negligente.
Não acredite no elogio que empresta a você qualidades imaginárias.
Vespas cruéis por vezes se escondem no cálice do lírio.
Não se aflija pela aquisição de vantagens imediatas na experiência
terrestre. Os museus permanecem abarrotados de mantos de reis e de
outros "cadáveres de vantagens mortas".
Francisco Cândido Xavier
[Agenda Cristã]
Espírito: André Luiz

15 de ago. de 2011

DO AMOR : A ARMA INFALÍVEL

Certo dia, um homem revoltado criou um poderoso e longo pensamento de ódio, colocou-o numa carta rude e malcriada e mandou-o para o chefe da oficina de que fora despedido.
O pensamento foi vazado em forma de ameaças cruéis. E quando o diretor do serviço leu as frases ingratas que o expressava, acolheu-o, desprevenidamente, no próprio coração, e tornou-se furioso sem saber por quê. Encontrou, quase de imediato, o subchefe da oficina e, a pretexto de enxergar uma pequena peça quebrada, desfechou sobre ele a bomba mental que trazia consigo.
Foi a vez do subchefe tornar-se neurastênico, sem dar o motivo. Abrigou a projeção maléfica no sentimento, permaneceu amuado várias horas e, no instante do almoço, ao invés de alimentar-se, descarregou na esposa o perigoso dardo intangível. Tão-só por ver um sapato imperfeitamente engraxado, proferiu dezenas de palavras feias; sentiu-se aliviado e a mulher passou a asilar no peito a odienta vibração, em forma de cólera inexplicável. Repentinamente transtornada pelo raio que a ferira e que, até ali, ninguém soubera remover, encaminhou-se para a empregada que se incumbia do serviço de calçados e desabafou. Com palavras indesejáveis inoculou-lhe no coração o estilete invisível.
Agora, era uma pobre menina quem detinha o tóxico mental. Não podendo despejá-lo nos pratos e xícaras ao alcance de suas mãos, em vista do enorme débito em dinheiro que seria compelida a aceitar, acercou-se de velho cão, dorminhoco e paciente, e transferiu-lhe o veneno imponderável, num pontapé de largas proporções. O animal ganiu e disparou, tocado pela energia mortífera, e, para livrar-se desta, mordeu a primeira pessoa na via pública. Era a senhora de um proprietário vizinho que, ferida na coxa, se enfureceu instantaneamente, possuída pela força maléfica. Em gritaria desesperada, foi conduzida a certa farmácia; entretanto, deu-se pressa em transferir ao enfermeiro que a socorria a vibração amaldiçoada. Crivou-o de xingamentos e esbofeteou-lhe o rosto.
O rapaz muito prestativo, de calmo que era, converteu-se em fera verdadeira. Revidou os golpes recebidos com observações ásperas e saiu, alucinado, para a residência, onde a velha e devotada mãezinha o esperava para a refeição da tarde. Chegou e descarregou sobre ela toda a ira de que era portador.
- Estou farto! – bradou – a senhora é culpada dos aborrecimentos que me perseguem! Não suporto mais esta vida infeliz! Fuja de minha frente!
Pronunciou nomes terríveis. Blasfemou. Gritou, colérico, qual louco.
A velhinha, porém, longe de agastar-se, tomou-lhe as mãos e disse-lhe com naturalidade e brandura:
-Venha cá, meu filho! Você está cansado e doente! Sei a extensão de seus sacrifícios por mim e reconheço que tem razões para lamentar-se. No entanto, tenhamos bom ânimo! Lembremo-nos de Jesus!... Tudo passa na Terra. Não nos esqueçamos do amor que o Mestre nos legou...
Abraçou-o comovida, e afagou-lhe os cabelos!
O filho demorou-se a contemplar-lhe os olhos serenos e reconheceu que havia no carinho materno tanto perdão e tanto entendimento que começou a chorar, pedindo-lhe desculpas.
Houve então entre os dois uma explosão de íntimas alegrias. Jantaram felizes e oraram em sinal de reconhecimento a Deus.
Neio Lúcio