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17 de jan. de 2013

Amigo ingrato

Causa-te surpresa o fato de ser o teu acusador de agora, o amigo aturdido de ontem, que um dia pediu-te abrigo ao coração gentil e ora  não te concede ensejo, sequer, para esclarecimentos.
Despertas, espantado, ante a relação de impiedosas queixas que
guardava de ti, ele que recebeu, dos teus lábios e da tua paciência,
as excelentes lições de bondade e de sabedoria, com as quais cresceu emocional e culturalmente.
Percebes, acabrunhado, que as tuas palavras foram, pelo teu amigo, transformadas em relhos com os quais, neste momento, te rasga as carnes da alma, ele, que sempre se refugiou no teu conforto moral.
Reprocha-te a conduta, o companheiro que recebeste com carinho, sustentando-lhe a fragilidade e contornando as suas reações detemperamento agressivo.
Tornou-se, de um para outro momento, dono da verdade e chama-te mentiroso.
Ofereceste-lhe licor estimulante e recebes vinagre de volta.
Doaste-lhe coragem para a luta, e retribui-te com o desânimo para que fracasses.
Ele pretende as estrelas e empurra-te para o pântano.
Repleta-se de amor e descarrega bílis na tua memória, ameaçando-te sem palavras.
Não te desalentes!
O mundo é impermanente.
O afeto de hoje torna-se o adversário de amanhã.
As mãos que perfumas e beijas, serão, talvez, as que te
esbofetearão, carregadas de urze.
Há mais crucificadores do que solidários na via de redenção.
Esquecem-se, os homens, do bem recebido, transformando-se em cobradores cruéis, sem possuírem qualquer crédito.
Talvez o teu amigo te inveje a paz, a irrestrita confiança em
Deus, e, por isto, quer perturbar-te.
Persevera, tranquilo!
Ele e isto, esta provação, passarão logo, menos o que és, o que
faças.
Se erraste, e ele te azorraga, alegra-te, e resgata o teu equívoco.
Se estás inocente, credita-lhe as tuas dores atuais, que te
aprimoram e te aproximam de Deus.
Não lhe guardes rancor.
Recorda que foi um amigo, quem traiu e acusou Jesus; outro amigo negou-O, três vezes consecutivas, e os demais amigos fugiram dEle.
Quase todos O abandonaram e O censuraram, tributando-Lhe a
responsabilidade pelo medo e pelas dores que passaram a experimentar.
Todavia, Ele não os censurou, não os abandonou e voltou a buscá-los, inspirá-los e conduzi-los de volta ao reino de Deus, por amá-los em demasia.
Assim, não te permitas afligir, nem perturbar pelas acusações do
teu amigo, que está enfermo e não sabe, porque a ingratidão, a
impiedade e a indiferença são psicopatologias muito graves no
organismo social e humano da Terra dos nossos dias.
(Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis.
In: Momentos de Felicidade)
 
 

Poema da gratidão

 
Senhor Jesus, muito obrigada!
 
Pelo ar que nos dás,
 
Pelo pão que nos deste,
 
Pela roupa que nos veste,
 
Pela alegria que possuímos,
 
Por tudo de que nos nutrimos
 
 
 
Muito obrigada, pela beleza da paisagem,
 
Pelas aves que voam no céu de anil,
 
Pelas Tuas dádivas mil!
 
Muito obrigada, Senhor!
 
 
 
Pelos olhos que temos...
 
Olhos que veem o céu, que veem a terra e o mar,
 
Que contemplam toda beleza!
 
Olhos que iluminam de amor
 
Ante o majestoso festival de cor
 
Da generosa Natureza!
 
E os que perderam a visão?
 
Deixa-me rogar por eles
 
Ao Teu nobre coração!
 
Eu sei que depois desta vida,
 
Além da morte,
 
voltarão a ver com alegria incontida...
 
Muito obrigada pelos ouvidos meus,
 
Pelos ouvidos que me foram dados por Deus.
 
Obrigada, Senhor, porque posso escutar
 
O Teu nome sublime, e, assim, posso amar.
 
Obrigada pelos ouvidos que registram:
 
A sinfonia da vida,
 
No trabalho, na dor, na lida...
 
O gemido e o canto do vento nos galhos do olmeiro,
 
As lágrimas doridas do mundo inteiro
 
E a voz longínqua do cancioneiro...
 
 
 
E os que perderam a faculdade de escutar?
 
Deixa-me por eles rogar...
 
Sei que em Teu Reino voltarão a sonhar.
 
Obrigada, Senhor, pela minha voz.
 
Mas também pela voz que ama,
 
Pela voz que canta,
 
Pela voz que ajuda,
 
Pela voz que socorre,
 
Pela voz que ensina,
 
Pela voz que ilumina...
 
E pela voz que fala de amor,
 
Obrigada, Senhor!
 
 
 
Recordo-me, sofrendo, daqueles
 
Que perderam o dom de falar
 
E o Teu nome não podem pronunciar!...
 
 
 
Os que vivem atormentados na afasia
 
E não podem cantar nem à noite, nem ao dia...
 
Eu suplico por eles
 
Sabendo, porém, que mais tarde,
 
No Teu Reino voltarão a falar.
 
Obrigada, Senhor, por estas mãos, que são minhas
 
Alavancas da ação, do progresso, da redenção.
 
Agradeço pelas mãos que acenam adeuses,
 
Pelas mãos que fazem ternura,
 
E que socorrem na amargura;
 
Pelas mãos que acarinham,
 
Pelas mãos que elaboram as leis
 
Pelas mãos que cicatrizam feridas
 
Retificando as carnes sofridas
 
Balsamizando as dores de muitas vidas!
 
 
 
Pelas mãos que trabalham o solo,
 
Que amparam o sofrimento e estacam lágrimas,
 
Pelas mãos que ajudam os que sofrem,
 
Os que padecem...
 
Pelas mãos que brilham nestes traços,
 
Como estrelas sublimes fulgindo em meus braços!
 
 
 
... E pelos pés que me levam a marchar,
 
Ereta, firme a caminhar;
 
pés da renúncia que seguem
 
Humildes e nobres sem reclamar.
 
E os que estão amputados, os aleijados,
 
Os feridos e os deformados,
 
Os que estão retidos na expiação
 
Por ilusões doutra encarnação,
 
Eu rogo por eles e posso afirmar
 
Que no Teu Reino, após a lida
 
Dolorosa da vida,
 
hão de poder bailar
 
E em transportes sublimes outros braços afagar...
 
Sei que a Ti tudo é possível
 
Mesmo o que ao mundo parece impossível!
 
 
 
Obrigada, Senhor, pelo meu lar,
 
O recanto de paz ou escola de amor,
 
A mansão de glória.
 
Obrigada, Senhor, pelo amor que eu tenho
 
E pelo lar que é meu...
 
Mas, se eu sequer
 
Nem o lar tiver
 
Ou teto amigo para me aconchegar
 
Nem outro abrigo para me confortar,
 
Se eu não possuir nada,
 
senão as estradas e as estrelas do céu,
 
Como leito de repouso e o suave lençol,
 
E ao meu lado ninguém existir, vivendo e
 
Chorando sozinha, ao léu...
 
Sem alguém para me consolar
 
Direi, cantarei, ainda:
 
Obrigada, Senhor,
 
Porque Te amo e sei que me amas,
 
Porque me deste a vida
 
Jovial, alegre, por Teu amor favorecida...
 
Obrigada, Senhor, porque nasci,
 
Obrigada, porque creio em Ti.
 
... E porque me socorres com amor,
 
Hoje e sempre,
 
Obrigada, Senhor!
 
 
 
AMÉLIA RODRIGUES
 
Por Divaldo Franco

Esmolas esquecidas

Dá o que possas, como possas e quanto possas em benefício dos outros, mas recorda sempre essas esmolas esquecidas...
O timbre de voz fraterna com quem ainda não simpatizas...
O sorriso acolhedor para a visita inesperada...
O minuto de boa vontade no esclarecimento amigo...
A simples conversação reconfortante com a pessoa cuja presença te desagrada...
O silêncio generoso ante a provocação daqueles que ainda te não compreende...
A insignificante gentileza na via pública...
A referência construtiva em favor dos ausentes...
O serviço singelo aos desconhecidos...
A Oração pelos adversários...
A consideração para com os mais velhos...
O amparo à criança...
A ligeira visita aos doentes...
O bilhete afetuoso ao Irmão necessitado de bom ânimo...
O carinho em casa...
O socorro aos desalentados...
A palavra otimista para quem te ouve...
A leitura edificante...
O respeito às situações que não conheces...
O auxílio à natureza...
A cooperação desinteressada no Bem...
Não te afaste do abençoado serviço a todos.
Os pequenos gestos espontâneos da verdadeira fraternidade são alicerces seguros na construção do reino de Amor e Luz.
Sheilla
Psicografia de Chico Xavier
Livro: Seguindo Juntos

Estória - O burro de carga - Neio Lúcio

No tempo em que não havia automóveis, na cocheira de famoso palácio real um burro de carga curtia imensa amargura, em vista das pilhérias e remoques dos companheiros de apartamento.
Reparando-lhe o pelo maltratado, as fundas cicatrizes do lombo e a cabeça tristonha e humilde, aproximou-se formoso cavalo árabe, que se fizera detentor de muitos prêmios, e disse, orgulhoso:
- Triste sina a que recebeste! Não Invejas minha posição nas corridas? Sou acariciado por mãos de princesas e elogiado pela palavra dos reis!
- Pudera! - exclamou um potro de fina origem inglesa - como conseguirá um burro entender o brilho das apostas e o gosto da caça?
O infortunado animal recebia os sarcasmos, resignadamente.
Outro soberbo cavalo, de procedência húngara, entrou no assunto e comentou:
- Há dez anos, quando me ausentei de pastagem vizinha, vi este miserável sofrendo rudemente nas mãos de bruto amansador. É tão covarde que não chegava a reagir, nem mesmo com um coice. Não nasceu senão para carga e pancadas. É vergonhoso suportar-lhe a companhia.
Nisto, admirável jumento espanhol acercou-se do grupo, e acentuou sem piedade:
- Lastimo reconhecer neste burro um parente próximo. É animal desonrado, fraco, inútil... Não sabe viver senão sob pesadas disciplinas. Ignora o aprumo da dignidade pessoal e desconhece o amor-próprio. Aceito os deveres que me competem até o justo limite; mas, se me constrangem a ultrapassar as obrigações, recuso-me à obediência, pinoteio e sou capaz de matar.
As observações insultuosas não haviam terminado, quando o rei penetrou o recinto, em companhia do chefe das cavalariças.
- Preciso de um animal para serviço de grande responsabilidade - informou o monarca -, animal dócil e educado, que mereça absoluta confiança.
O empregado perguntou:
Não prefere o árabe, Majestade?
- Não, não - falou o soberano -, é muito altivo e só serve para corridas em festejos oficiais sem maior importância.
- Não quer o potro inglês?
- De modo algum. E' muito irrequieto e não vai além das extravagâncias da caça.
- Não deseja o húngaro?
- Não, não. É bravio, sem qualquer educação. É apenas um pastor de rebanho.
- O jumento serviria? - insistiu o servidor atencioso.
- De maneira nenhum. É manhoso e não merece confiança.
Decorridos alguns instantes de silêncio, o soberano indagou:
- Onde está o meu burro de carga?
O chefe das cocheiras indicou-o, entre os demais.
O próprio rei puxou-o carinhosamente para fora, mandou ajaezá-lo com as armas resplandecentes de sua Casa e confiou-lhe o filho, ainda criança, para longa viagem.
Assim também acontece na vida. Em todas as ocasiões, temos sempre grande número de amigos, de conhecidos e companheiros, mas somente nos prestam serviços de utilidade real aqueles que já aprenderam a suportar, servir e sofrer, sem cogitar de si mesmos.

Francisco Cândido Xavier.
Obra: Ideias e Ilustrações.
Espírito: Neio Lúcio.

Bênçãos e maldições

557. Podem a bênção e a maldição atrair o bem e o mal para aquele
sobre quem são lançados?
"Deus não escuta a maldição injusta e culpado perante ele se torna o
que a profere. Como temos os dois gênios opostos, o bem e o mal, pode
a maldição exercer momentaneamente influência, mesmo sobre a matéria.
Tal influência, porém, só se verifica por vontade de Deus como
aumento de prova para aquele que é dela objeto. Demais, o que é
comum é serem amaldiçoados os maus e abençoados os bons. Jamais a
bênção e a maldição podem desviar da senda da justiça a Providência,
que nunca fere o maldito, senão quando mau, e cuja proteção não
acoberta senão aquele que a merece."

O Livro dos Espíritos
Allan Kardec

Forças mentais

Envolve-te no pensamento do bem e ora sempre, a fim de que as tuas sejam forças mentais enobrecidas.
A oração proporciona sintonia com as irradiações superiores da Mente divina, na qual mergulharás, beneficiando-te com elas.
Se te manténs inadvertido a respeito do intercâmbio psíquico e não vigias, sofrerás o efeito daninho de muitas mentes que te buscam, roubando-te vitalidade ou impondo-te suas cargas nem sempre saudáveis, que te submeterão.
Estás sempre em sintonia, queiras ou não, com as forças mentais que se movimentam no mundo. Conforme a tua identificação emocional, externarás vibrações que se vincularão a outras de igual teor vibratório.
Não te descuides do que pensas, do que aspiras, do que falas e de como ages. Da mente procedem todos esses passos e se não a tens disciplinada, habituada aos bons direcionamentos, sofrerás as correspondências da reciprocidade.
Respiras a atmosfera saturada pelo teu psiquismo, vivendo de acordo com as suas irradiações. Ascendendo a planos elevados, te nutrirás de energia pura, saudável. Descendo aos fossos dos desejos brutais, voluptuosos, te intoxicarás com as emanações mortíferas ali emanadas.
És tu quem eleges a região psíquica para viver e pela qual te conduzirás na busca da realização interior.
Muitas vezes enfrentarás campos psíquicos minados por cargas viciadas e perigosas, imantadas por seres espirituais perversos e doentios que se utilizam de outras pessoas para te alcançar e prejudicar.
Somente poderás conduzir-te nessas batalhas com os recursos morais que provêm das tuas energias psíquicas. Como não temem outros recursos, será através das tuas vigorosas emissões vibratórias que a eles escaparás.
Assim, robustece-te no autoconhecimento, aprofundando a tua capacidade de bem pensar para melhor agir, adquirindo controle e direção segura para a tua existência terrena.
O teu pensamento é fonte de vida que não podes descurar.
As tuas forças mentais devem ser cuidadas, ampliadas, aplicadas na elaboração de novas condutas para ti e para o mundo sob a inspiração de Jesus cristo, cuja existência na Terra foi sempre vivida em perfeita sintonia com Deus, de Quem auria forças para o desempenho do ministério a que se entregou, e para manter o poder sobre as Entidades do mal, carregadas de energia destrutiva, que Ele muitas vezes enfrentou.

Divaldo P. Franco
Livro: Joanna de Ângelis
Livro: Dias Gloriosos

Ingratidão

Nos mesmos pratos
"E ele, respondendo, disse: O que mete comigo a mão no prato, esse me há de
trair." - (Mateus, 26:23.)
Toda ocorrência, na missão de Jesus, reveste-se de profunda expressão
simbólica.
Dificilmente o ataque de estranhos poderia provocar o Calvário doloroso. Os
juízes do Sinédrio pessoalmente, não se achavam habilitados a movimentar o
sinistro assunto, nem os acusadores gratuitos do infame.
Reclamava-se alguém que fraquejasse e traísse a si mesmo.
A ingratidão não é planta de campo contrário.
O infrator mais temível, em todas as boas obras, é sempre o amigo
transviado, o companheiro leviano e o irmão indiferente.
Não obstante o respeito que devemos a Judas redimido, convém recordar a
lição em favor do serviço de vigilância, não somente para os discípulos em
aprendizado, a fim de que não fracassem, como também para os discípulos em
testemunho para que exemplifiquem com o Senhor, compreendendo, agindo e
perdoando.
Nas linhas do trabalho cristão, não é demais aguardar grandes lutas e
grandes provas, considerando-se, porém, que as maiores angústias não
procederão de círculos adversos, mas justamente da esfera mais íntima,
quando a inquietação e a revolta, a leviandade e a imprevidência penetram o
coração daqueles que mais amamos.
De modo geral, a calúnia e o erro, a defecção e o fel não partem de nossos
opositores declarados, mas, sim, daqueles que se alimentam conosco, nos
mesmos pratos da vida. Conserve-se cada discípulo plenamente informado, com
respeito a semelhante verdade, a fim de que saibamos imitar o Senhor, nos
grandes dias.

VINHA DE LUZ

Chico Xavier-Emmanuel

Sofrimento de um suicida

Nota do compilador: Abaixo, uma pequena mostra do sofrimento de um
suicida no Plano Espiritual. Várias obras ditadas pelos espíritos nos
dão conta que o suicídio é a pior saída para quem quer fugir de
situação que acha impossível solucionar. Ninguém tem o direito de
tentar impedir a ordem natural da vida. Quem desejar saber com
profundidade as consequências de um suicídio, pode ler a obra
"Memórias de Um Suicida", ditada pelo espírito do famoso e importante
escritor Camilo Castelo Branco, onde nos conta todo o seu sofrimento
após suicidar-se, em 1890.

Henri Numiers não acreditava que houvesse uma alma imortal
animando seu saudável corpo de homem. Para ele, existiam
apenas os ossos, as carnes, os nervos, artérias carreando o sangue
necessário à vida. Era materialista. Por isso matou-se, assim tentando
fugir à situação moral que o incomodava. Uma vez morrendo o homem,
acreditava ele, a alma, se existisse, se extinguiria também com ele.
Pensamento, amor, inteligência, sentimento, ação, honra, desonra,
ódios, amarguras, decepções, tudo o que constitui o ser moral humano
cria ele que se aniquilava no túmulo juntamente com o corpo. Dos belos
sermões filosóficos de Rômulo e de Thom sobre os graves problemas do
homem e sua alma imortal, feita à imagem e semelhança de Deus, Henri
só guardava a lembrança da ansiedade com que esperava o fim para
regressar a Numiers e rever Berthe. Contudo, o maior desapontamento o
desgraçado moço colheu do seu ato de suicídio quando, ao primeiro
amargor que a vida lhe apresentara, desejou furtar-se a ele,
matando-se.

Caíra de todo a noite e em Numiers e suas imediações pairava
completo silêncio. Havia alguns meses que Henri desaparecera do mundo
terreno, mas a desolação era porventura maior tanto em Numiers como em
Stainesbourg e Fontaine. Pai Arnold não mais trabalhava,
desinteressando-se da prosperidade da Quinta, e Marie continuava
enferma. Era inverno. Contudo, naquela noite, o luar irradiava,
emprestando àquele recanto da velha Flandres certa doçura de ambiente.

Na aldeia de Numiers uns dormiam, outros velavam, alguns sofriam
e choravam, e o silêncio presidia tudo.
De súbito, um grito agudo e forte repercutiu do vale do ribeiro
estendendo-se pela aldeia. Na Quinta, que ficava próxima a esse vale,
o grito fora também ouvido. Os cães uivaram tristemente, as ovelhas
baliram, dolorosas, no aprisco, cochicharam os galináceos,
assustados... e Marie e Arnold, que se achavam ainda despertos,
entreolharam-se tomados de pavor e caíram em pranto. Haviam
reconhecido naquele grito a voz do filho que morrera havia pouco.

Rômulo, padre e médico, achava-se à cabeceira de Marie. Benzeu-se
discretamente, dizendo consigo mesmo, comovido:

- É a alma alucinada do meu pobre Henri...

- Ouvistes, meu Padre? - interpelou pai Arnold.

- Não, Arnold, nada ouvi. Que foi?

- Um grito de desespero, a voz do meu rapaz...

- É a tua impressão, meu pobre Arnold. Afasta da ideia esses
pensamentos lúgubres...

- Marie também ouviu, meu Padre, os cães uivaram, as ovelhas gemeram.

- Ora, Marie está enferma e a febre excita-lhe os nervos e a
imaginação. Os cães ladram sempre, as ovelhas choram a cada
instante...

Mas no íntimo, dolorosamente, ele repetiu:

- Sim, é a alma alucinada do meu pobre Henri...

No andar térreo, sozinho, diante da lareira acesa Thom também
ouvira, compreendera e pusera-se a orar com fervor.

Com efeito, Henri Numiers não morrera.

Supondo aniquilar-se para sempre, ao atirar-se da montanha, ele
conseguira aniquilar apenas o corpo carnal. Seu espírito, com a
tenebrosa queda, como que desmaiara, anulara-se como se tudo ao
derredor dele se extinguisse. A violência do gênero de morte que
escolhera traumatizara o seu corpo espiritual, despedaçando-lhe
a harmonia das vibrações de tal forma que um século não bastaria para
que elas retornassem ao ritmo normal necessário a um estado de vida
satisfatório.

Passados que foram alguns dias, porém, Henri começou a voltar a
si do longo desmaio, isto é, um estado de pesadelo angustioso
sobreveio ao desmaio e ele começou a sentir a sensação da queda, as
dores insuportáveis do seu corpo batendo nas pedras, partindo-se,
esmagando-se. Estava cego, pois nada via, uma faixa negra e gelada
envolvia-o, seus pensamentos eram um caos, não podia reunir as ideias,
refletir, compreender o que se passava consigo, por que razão rolava,
rolava da montanha mas sem jamais atingir o solo. Somente podia
refletir em que quisera morrer para fugir à tortura de viver sem a sua
Berthe e que, para isso, saltara para o abismo num gesto pavoroso de
completo louco. Um pavor alucinante invadira sua mente e ele pusera-se
a gritar, a gritar desesperadamente, pedindo socorro. Fora um desses
gritos que as três aldeias testemunharam e que, daquela noite em
diante, começara a repetir-se periodicamente, pelas imediações. Por
vezes, envolvido por aquele pesadelo, sentia-se no fundo do vale ao
mesmo tempo que rolava pela montanha, apavorava-se com a negra solidão
que o rodeava, presenciava, sem saber como, o desespero de seus pais e
as lágrimas dos amigos, chorava também, desesperado, e contemplava,
apesar de cego para as demais ocorrências, os próprios despojos
sangrentos, mutilados, sepultados sob um montão de terra e pedras.
Nada compreendia senão que continuava a sofrer o desprezo da mulher
amada e as humilhações daí consequentes, sofrimentos que, agora,
reunidos ao martírio da inconcebível queda que nunca chegava ao fim,
dele fazia um Espírito enlouquecido no mais alto grau que a mente
humana poderá conceber.
Tudo isso, porém, uma confusão atrocíssima para o desgraçado que
a sofre, passava-se nele com dificuldade, em pequenos intervalos,
pois, de quando em vez, ele perdia-se dentro de um caos, num penoso
estado de colapso. E quando o infeliz esforçava compreender o que se
passava, seus pensamentos, traumatizados, negavam-se a atendê-lo e
desapareciam naquela negridão interior que o confundia. Mas isso era
apenas os vislumbres do despertar, o momento dramático e solene da
ocasião em que o Espírito que abandona seu corpo carnal, valendo-se do
suicídio, começa a se desenraizar dos liames magnéticos que o atavam à
matéria. Esse desprendimento, lento, doloroso, que poderia durar meses
e anos, valeria a Henri períodos infernais, indescritíveis ao
entendimento humano. Sua impressão era de que estava atado por um ímã
poderoso a um objeto do qual, no entanto, precisava desprender-se.
Esse objeto encontrava-se ao sopé da montanha da qual ele rolava sem
jamais parar, na escuridão do vale. Eram os seus despojos sangrentos,
que ele via, apesar de cego, no fundo de uma cova, visão satânica da
qual quisera fugir, mas que se agarrara a ele com um poder dominador,
incapaz de ser repelida. Sobrevinham, em seguida, terríveis
convulsões, fazendo-o estorcer-se como se seus nervos, absolutamente
traumatizados, sofressem choques elétricos ao despenhar-se ele da
montanha. Era como se ataques epilépticos o atingissem avassalando sua
mente, suas vibrações, todas as moléculas do seu ser espiritual; era a
sensação da queda sofrida pelo perispírito, estado depressor que o
acompanharia até a reencarnação futura e que somente o Evangelho,
revigorador de vibrações, reeducando-lhe a mente, poderia reencontrar.
Nesse inconcebível estado traumático gritava de horror e procurava
agarrar-se a qualquer coisa a fim de se deter na queda, e o
desgraçado, apesar de tudo, através do pesadelo que o torturava, sente
que continua sendo a personalidade Henri Numiers, que ele mesmo é que
rola da montanha, que ele mesmo é que está estirado sob o montão de
terra, apodrecido, corroído pelos vibriões, despojos de carnes
sangrentas, negras, asquerosas, miseráveis, ele, que fora belo e
forte, e que, a despeito disso, está vivo, sofredor e desgraçado, mas
vivo, pensante, sensível.

Por vezes, sem saber como, vencido pelo cansaço e o desânimo,
todos os atos de sua vida se lhe desenham no interior da consciência
com uma minúcia de detalhes que o infeliz, já alucinado, converte-se
em verdadeiro réprobo: seus modos de orgulhoso, sua indiferença pelos
que o rodeiam em sua aldeia, o menosprezo a conselhos sensatos que
recebia, a ingratidão para com os pais, sua arrogância de ateu, suas
baixezas de ébrio e devasso, primeiro em Stainesbourg, ao perder
Berthe, depois em Bruges; suas refregas com os moços da aldeia, todos
marcados nas faces por sua faca, o suicídio de Franz Schmidt, a que
dera causa, tudo o que constituíra o seu eu atuante na intimidade do
lar e na sociedade agora desfilava diabolicamente em torno dele como
cenas vivas que o enlouqueciam de mistura com as torturas que já o
afligiam. Quer furtar-se à imposição do panorama de si mesmo, mas, em
vão. A visão do que ele próprio foi e de como se conduziu na vida ali
está, à sua frente, dentro dele, quais faixas de fogo que lhe
devorassem o ser na desaprovação própria a que chamam arrependimento,
remorso!

Não podendo mais ou julgando-se exausto de tantas dores e
sofrimentos, pensou em sua casa, saudoso do conforto desfrutado entre
seus pais, da solidariedade de sua mãe, que ele tão mal soubera
compreender e menos ainda agradecer. Num esforço supremo da própria
vontade conseguiu locomover-se... e ei-lo à procura de socorro no lar
paterno.

Penetra naquela casa que o viu nascer e lhe dera os dias mais
felizes que vivera. Diante de sua mãe, a quem encontra enferma e
alquebrada, exclama cheio de queixas, julgando-se ouvido e
compreendido:

- Mãe, minha mãe! Tem compaixão de teu filho, que está ferido,
enterrado vivo. Não, minha mãe, eu não estou morto, eu não morri,
estou vivo, todos se enganaram a meu respeito. Olha em que estado me
encontro: todo corroído por vermes, que me mordem e maltratam como
lobos. Não posso sair de lá e sofro satanicamente, debaixo daquela
terra pestilenta, que cheira a imundície. Não posso mais, tira-me de
lá, tenho horror àquela caverna onde me prenderam, vejo fantasmas, que
se riem do estado em que me encontro. Franz Schmidt está lá e culpa-me
do que lhe aconteceu, tira-me de lá, minha mãe, eu estou vivo, estou
vivo, estou vivo!

Mas Marie, que nada via nem ouvia do que ele lhe dizia, não
respondia, continuando a chorar, como sempre.

A angústia do pobre suicida recrudescia então e ele saía,
desesperado, a procurar socorro noutra parte. Visitava o Presbitério,
dirigia-se a Padre Rômulo e ao amigo Thom, suplicava auxílio,
queixando-se sempre, e via que ambos o entendiam, mas, em vez de
empunharem uma enxada e irem ao vale, a fim de desenterrá-lo,
punham-se a orar banhados em lágrimas. E corria a aldeia rogando
piedade e socorro a quantos encontrava. Ninguém lhe respondia, ninguém
lhe dava atenção, mas alguns poucos se benziam e oravam.

Entretanto, começou a correr o boato de que a alma de Henri
sofria suplícios e que fora vista e reconhecida por alguns antigos
amigos, e que ele mostrava-se horrorosamente feio: as vestes
despedaçadas, rasgadas pela queda, o rosto esfolado e ensanguentado,
as pernas quebradas, mutilado, imagem perfeita daqueles destroços que
haviam sido sepultados no vale.

Entrementes, o suicida não encontrava refrigério em parte alguma.
Por toda parte onde tentasse o socorro alheio acompanhava-o as
terríveis sensações que descrevemos. Por toda parte a sensação da
queda que o alucinava. Por toda parte a sentir-se grilheta do próprio
corpo que apodrecia no vale, a saudade da esposa, a humilhação do seu
desprezo, o desespero de uma situação confusa, enigmática, atroz.

Henri Numiers trazia o inferno dentro de si.

Querendo furtar-se ao desgosto que, pela primeira vez o visitara,
matou-se para dormir o eterno sono do esquecimento. Mas não encontrou
o sono depois do suicídio. Não encontrou esquecimento. Encontrou
apenas o seu próprio ser sofrendo novas fases de angústias criadas por
ele próprio. Assim é o suicídio.

(Espírito de Charles - Médium Yvonne A. Pereira - Obra: O Cavaleiro de Numiers)

16 de jan. de 2013

CONDENAÇÃO DE JOANA D'ARC


Victoria Sackiville-West, escreveu Santa Joana D'Arc (Ed. N.Fronteira, 1964, p. 263/294), onde relata trechos autênticos do processo de Joana D'Arc, queimada viva como herege em Rouen, à 30 de maio de 1431.

Sentença: "Que a mulher comumente chamada de Jeanne la Pucelle... será denunciada e declarada feiticeira, adivinha, pseudoprofeta, invocadora
de maus espíritos, conspiradora, supersticiosa, implicada na prática de magia e afeita a ela, teimosa quanto à fé católica, cismática
quanto ao artigo Unam Sanctam, etc, e, em diversos outros artigos de nossa fé, cética e extraviada, sacrílega, idólatra, apóstata,
execrável e maligna, blasfema em relação a Deus e Seus santos, escandalosa, sediciosa, perturbadora da paz, incitadora da guerra,
cruelmente ávida de sangue humano, incitando o derramamento do sangue dos homens, tendo completa e vergonhosamente abandonado as decências próprias de seu sexo, e tendo imodestamente adotado o traje e o status
de um soldado; por isso e por outras coisas abomináveis a Deus e aos homens, traidora das leis divinas e naturais e da disciplina da Igreja, sedutora  de príncipes e do povo, tendo, em desprezo e desdém a Deus, consentido em ser venerada e adorada, dando as mãos e a roupa para serem beijadas, herege ou, ou de qualquer modo, veementemente
suspeita de heresia, por isso ela será punida e corrigida de acordo com as leis divinas e canônicas..."

(1819-1898) E a autora narra a execução da seguinte forma: "...Mãos inglesas seguraram-na rudemente e a impeliram em direção ao cadafalso,
para onde a ergueram e onde a estaca e os feixes de lenha estavam à sua espera. Era feito de estuque, e muito alto, tão alto que o carrasco teve dificuldade em alcançá-la, e foi incapaz de fazer seu
trabalho rapidamente. Em vez de uma coroa de espinhos, puseram-lhe um chapéu alto de papel, como uma mitra, contendo as palavras: 'Herege,
relapsa, apóstata, idólatra'... La Pierre, a pedido dela e enviado por Masieu, foi buscar o crucifixo na igreja próxima de Saint-Sauveur e, subindo o cadafalso, segurou-o à sua frente. Joana lhe disse que
descesse quando o fogo fosse aceso, mas que continuasse a segurar o crucifixo no alto para que ela pudesse vê-lo.

Enquanto isso, eles a amarraram à estaca, e alguns ingleses riram quando ela chamou Santa Catarina, Santa Margarida e São Miguel em voz
alta e gritou: "Ah, Rouen! tenho grande medo que tenhas de sofrer pelaminha morte". Então, enquanto as chamas estalavam e subiam, ela chamou
Jesus repetidamente e em voz alta; sua cabeça caiu para a frente, e foi a última palavra que a ouviram pronunciar...Para que não houvesse
nenhuma dúvida possível quanto à morte da feiticeira - pois os ingleses tinham medo de que surgisse algum rumor de sua fuga -, o carrasco recebeu ordens de abrir as chamas e mostra seu corpo nu e
carbonizado pendurado na estaca."


Visão espírita da Bíblia

A palavra de Deus não está na Bíblia, mas na natureza, traduzida em suas leis. A Bíblia é simplesmente uma coletânea de livros hebraicos, que nos dão um panorama histórico do judaísmo primitivo. Os cinco livros iniciais da Bíblia, que constituem o Pentateuco mosaico, referem-se à formação e organização do povo judeu, após a libertação do Egito e a conquista de Canaã. Atribuídos a Moisés, esses livros não foram escritos por ele, pois relatam, inclusive, a sua própria morte.

As pesquisas históricas revelam que os livros da Bíblia têm origem na literatura oral do povo judeu. Só depois do exílio na Babilônia foi que Esdras conseguiu reunir e compilar os livros orais (guardados na memória) e proclamá-los em praça pública como a lei do judaísmo, ditada por Deus.

Os relatos históricos da Bíblia são ao mesmo tempo ingênuos e terríveis. Leia o estudante, por exemplo, o Deuteronômio, especialmente os capítulos 23 e 28 desse livro, e veja se Deus podia ditar aquelas regras de higiene simplória, aquelas impiedosas leis de guerra total, aquelas maldições horríveis contra os que não creem na "sua palavra". Essas maldições, até hoje, apavoram as criaturas simples que têm medo de duvidar da Bíblia.

Muitos espertalhões se servem disso e do prestígio da Bíblia como "palavra de Deus", para arregimentar e tosquiar gostosamente vastos rebanhos. As leis morais da Bíblia podem ser resumidas nos Dez Mandamentos. Mas esses mandamentos nada têm de transcendentes. São regras normais de vida para um povo de pastores e agricultores, com pormenores que fazem rir o homem de hoje. Por isso, os mandamentos são hoje apresentados em resumo. O Espírito que ditou essas leis a Moisés, no Sinai, era o guia espiritual da família de Abrão, Isaac e Jacob, mais tarde transformado no Deus de Israel. Desempenhando uma elevada missão, esse Espírito preparava o povo judeu para o monoteísmo, a crença num só Deus, pois os deuses da antiguidade eram muitos.

O Espiritismo reconhece a ação de Deus na Bíblia, mas não pode admiti-la como a "palavra de Deus". Na verdade, como ensinou o apóstolo Paulo, foram os mensageiros de Deus, os Espíritos, que guiaram o povo de Israel, através dos médiuns, então chamados profetas. O próprio Moisés era um médium, em constante ligação com lave ou Jeová, o deus bíblico, violento e irascível, tão diferente do deus-pai do Evangelho. Devemos respeitar a Bíblia no seu exato valor, mas nunca fazer dela um mito, um novo bezerro de ouro. Deus não ditou nem dita livros aos homens.

Visão Espírita da Bíblia
J. Herculano Pires

Doenças escolhidas

Livro: "Religião dos Espíritos" - Emmanuel.Questão 259.(04/09/1959)

Convictos de que o Espírito escolhe as provações que experimentará na Terra, quando se mostre na posição moral de resolver quanto ao próprio destino é justo recordar que a criatura , durante a reencarnação, elege, automaticamente, para si mesma, grande parte das doenças que se lhe incorporam às preocupações.

Não precisamos lembrar, neste capítulo, as grandes calamidades particulares, quais sejam o homicídio, de que o autor arrasta as consequências na forma de extrema perturbação espiritual, ou o suicídio frustrado, que assinala o corpo daquele que o perpetra com dolorosos e aflitivos remanescentes.

Deter-nos-emos, de modo ligeiro, no exame das decisões lamentáveis, que assumimos quando enleados no carro físico, sem saber que lhe martelamos ou desagregamos as peças.

Sempre que tenhamos deixado as constrições do primitivismo, todos sabemos que a prática do Bem é simples dever e que a prática do Bem é o único antídoto eficiente contra o império do mal em nós próprios.

Entretanto, rendemo-nos, habitualmente, às sugestões do mal, criando em nós não apenas condições favoráveis à instalação de determinadas moléstias no cosmo orgânico, mas também ligações fluídicas aptas a funcionarem como pontos de apoio para as influências perniciosas interessadas em vampirizar-nos a vida.

Seja na ingestão de alimento inadequado, por extravagância à mesa, seja no uso de entorpecentes, no alcoolismo mesmo brando, no aborto criminoso e nos abusos sexuais estabelecemos em nosso prejuízo as síndromes abdominais de caráter urgente, as úlceras gastrintestinais, as afecções hepáticas, as dispepsias crônicas, as pancreatites, as desordens renais, as irritações do cólon, os desastres circulatórios, as moléstias neoplásicas, a neurastenia, o traumatismo do cérebro, as enfermidades degenerativas do sistema nervoso, além de todo um largo cortejo de sintomas outros, enquanto que na crítica inveterada, na inconformação, na inveja, no ciúme, no despeito, na desesperação e na avareza, engendramos variados tipos de crueldade silenciosa com que, viciando o próprio pensamento das Inteligências menos felizes, encarnadas ou desencarnadas, que nos rodeiam.

Exteriorizando ideias conturbadas, assimilamos as ideias conturbadas que se agitam em torno de nosso passo, elementos esses que se nos ajustam ao desequilíbrio emotivo, agravando-nos as potencialidades alérgicas ou pesando nas estruturas nervosas que conduzem a dor.

Mantidas tais conexões, surgem frequentemente os processos obsessivos que, muitas vezes, sem afetarem a razão, nos mantém no domínio das enfermidades - fantasmas que nos esterilizam as forças e, pouco a pouco, nos corroem a existência.

Guardemo-nos, assim,contra a perturbação, procurando o equilíbrio e compreendendo no Bem - expressando bondade e educação - a mais alta fórmula para a solução de nossos problemas.

E, ainda mesmo em nos sentindo enfermos, arrastando-nos embora, aperfeiçoemo-nos ajudando aos outros, na certeza de que, servindo ao próximo, serviremos a nós mesmos, esquecendo, por fim, o mercado da invigilância onde cada um adquire as doenças que deseja para tormento próprio.

Nossas vítimas

Quando vivemos na carne somos, em muitas circunstâncias, algozes de outras vidas.
Não
nos reportamos aos insetos que esmagamos sob os pés ou aos múltiplos
animais de que nos alimentamos durante a existência física, nem
aludimos às legiões de vítimas do pretérito que nos espreitam e,
frequentemente, nos abordam em processos obscuros de influenciação
espiritual; observamos as nossas vítimas humanas do cotidiano, de toda
hora.
Há muitas faltas que praticamos incautamente, daí nascendo
muitas ocorrências de antipatia gratuita, diante das quais somos
defrontados por semblantes frios e gestos hostis, sem saber a razão...
Por
isso, a humildade é a maior prova de sabedoria humana e eis por que
carecemos, acima de tudo, de doar o perdão incondicional, a fim de
merecê-lo conforme as nossas próprias necessidades.
A rigor, não existem inocentes na Terra.
Todos nós, espíritos endividados com o passado, transportamos conosco as marcas de culpas individuais ou coletivas.
Todo ser consciente tem suas vítimas pessoais, vítimas conhecidas e insuspeitas, vítimas de dentro e de fora do lar.
Basta relacionemos algumas delas:
Aqueles a quem ferimos, através de comparações ultrajantes;
Os que prejulgamos com notória descaridade;
As crianças que relegamos ao abandono;
Os velhinhos que entregamos ao desamparo;
Os amigos cuja sensibilidade dilaceramos pelo abuso do anedotário inconveniente;
Os familiares que nos toleram as atitudes viciosas e as crueldades mentais;
Aqueles a quem acusamos sem pensar;
Os irmãos em erro, aos quais subtraímos deliberadamente as oportunidades de reabilitação;
Os
ausentes que, em muitas ocasiões, nunca vimos e cujo nome salpicamos
com o lodo de sarcasmo, a golpes de maledicência na praça pública;
As
mães doentes que passam por nós esmolando uma côdea de pão e às quais
receitamos serviço inadequado, que não colocaríamos sobre as próprias
alimárias domésticas.
Desiste de viver desapercebidamente dos nossos deveres de serviço e fraternidade, à frente uns dos outros.
Não te esqueças de orar por tuas vítimas e nem te negues a perdoar quem te
magoa. Não raro, aqueles que nos rogam perdão são aquelas mesmas
criaturas de quem precisamos recebê-lo...

Eurípedes Barsanulfo

Mensagens do além

As mensagens edificantes do Além não se destinam
apenas à expressão emocional, mas, acima de tudo,
ao teu senso de filho de Deus, para que faças o
inventário de tuas próprias realizações e te integres,
de fato, na responsabilidade de viver diante do Senhor.

Palavras de Emmanuel